Boca
La boca
territórios
entradas
saídas
palavras
línguas
sexos
fluxos
identidade?
identidades?
Calo-te agora
Verbalizas teu pranto
Tantos batons te pintaram
Tantos espelhos te olharam
Tantas bocas te beijaram
Tantas vezes estavas aberta
Sempre aberta…
Passagem certa...
Cega…
Agora cala-te.
Ouço melhor o teu fino grito.
O batom vermelho esteve sempre ali
a pintar-te por inteira…
Ele sempre estave ali
procurando-te...
Limites de tuas fronteiras.
Já é hora,
cala-te!
O teu vermelho
já não pertence mais a minha boca.
Dantes te enfeitavas,
agora vens comigo,
alimentas minha fome,
preenches o meu tempo.
tempo perdido
tempo roubado
tempo maquiado
vens...
e procuras sedento…
outros territórios…
outros planos
outras realidades…
Ficar distante de si mesmo.
Ser o outro, ver o outro
e avermelhar-se
de dor e de paixão.
Uma boca fechada é pintada de batom vermelho. O batom é passado repetidamente na boca. Uma cena simples, corriqueira. Uma mão feminina pinta a própria boca. Mas parece que falta algo neste gesto tão banal. Não abre-se a boca. Ela fica calada durante todo o tempo em que é pintada repetidamente. Num primeiro instante o batom manter-se dentro da área permitida, nos lábios, mas poucos segundos depois já ultrapassa fronteiras deste território.
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