domingo, 9 de janeiro de 2011

Mulher brasileira no banheiro




Esta acção "Mulher brasileira no banheiro" fez parte do evento "Manifesta, Festival das Artes", um movimento coletivo de jovens artistas que ocorreu no Theatro José de Alencar, envolvendo mais de 200 artistas de todas as liguagens e expressões, em uma única noite, numa maratona cultural de 18 às 6 horas da manhã do dia 18 de setembro de 2010, em Fortaleza, Brasil.


"Mulher brasileira no banheiro" é um prolongamento da acção "Carimbada". Acontece no banheiro das mulheres e dos homens do teatro. Tudo acontece por aproximadamente quarenta minutos. Entro no banheiro e inicio a performance carimbando todo o meu corpo ao olhar para o grande espelho do banheiro, o que depois é todo marcado pelo carimbo. Finalizo a acção passando batom vermelho nos meus lábios e beijando o espelho por alguns minutos.


Ocorreu uma interacção com as pessoas que entravam naqueles espaços. Algumas mulheres pediram para serem marcadas, outras perguntavam o que eu queria dizer com aquilo, enquanto outras olhavam sem interesse. Escrevi a palavra "boa" no espelho com batom, adjectivo este bastante utilizado no Brasil para as mulheres, tanto em comerciais televisivos, como corriqueiramente nas ruas. Esta é uma das muitas maneiras que contribuem para a referencia ao corpo da mulher como objecto sexual de posse masculina.


No banheiro dos homens houve uma quebra maior de acções corriqueiras e habituais. Primeiro eu como mulher naquele ambiente já chamava muita atenção, depois o fato de carimbar "mulher brasileira" no espelho em que se olhavam somente homens. Um rapaz indagou "Se fosse um homem entrando no banheiro das mulheres era lixado, mas você meu amor pode ficar aqui...". Eu falei "claro, sou uma mulher brasileira muito boa e gostosa por isso posso." Com minha resposta tive o objectivo de ironizar aquele comentário tipicamente masculino.


Penso que com este trabalho pude questionar as construções sociais de género na sociedade. Ao entrar em lugares inadequados para o meu corpo, como também ao agir de maneira inesperada, pude contribuir talvez para uma quebra de paradigmas na sociedade em que vivemos.


A performance também interagiu, como também complementou-se, com a intervenção da artista plástica Bartira Albuquerque, que fixou na porta dos banheiros a pergunta "O que é ser homem?".

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