domingo, 9 de janeiro de 2011

Batom que cala

Boca

La boca

territórios

entradas

saídas

palavras

línguas

sexos

fluxos

identidade?

identidades?

Calo-te agora

Verbalizas teu pranto

Tantos batons te pintaram

Tantos espelhos te olharam

Tantas bocas te beijaram

Tantas vezes estavas aberta

Sempre aberta…

Passagem certa...

Cega…

Agora cala-te.

Ouço melhor o teu fino grito.

O batom vermelho esteve sempre ali

a pintar-te por inteira…

Ele sempre estave ali

procurando-te...

Limites de tuas fronteiras.

Já é hora,

cala-te!

O teu vermelho

já não pertence mais a minha boca.

Dantes te enfeitavas,

agora vens comigo,

alimentas minha fome,

preenches o meu tempo.

tempo perdido

tempo roubado

tempo maquiado

vens...

e procuras sedento…

outros territórios…

outros planos

outras realidades…

Ficar distante de si mesmo.

Ser o outro, ver o outro

e avermelhar-se

de dor e de paixão.






Uma boca fechada é pintada de batom vermelho. O batom é passado repetidamente na boca. Uma cena simples, corriqueira. Uma mão feminina pinta a própria boca. Mas parece que falta algo neste gesto tão banal. Não abre-se a boca. Ela fica calada durante todo o tempo em que é pintada repetidamente. Num primeiro instante o batom manter-se dentro da área permitida, nos lábios, mas poucos segundos depois já ultrapassa fronteiras deste território.

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